13 de julho de 2012

O breve entusiasta

Chega o entusiasta como se tivesse descoberto o mundo e comenta sua nova radicalidade:

— Mano… descobri a fórmula!

— Que fórmula? diz o companheiro que sempre parece que não entende nada.

— A fórmula, velho! gesticula com seus braços a tomar o mundo. Vou usar só três famílias tipográficas! Pronto! Uma parte tensa de qualquer projeto gráfico feito por mim já está encaminhada! Só vou usar Helvetica, Caslon e Bodoni.


O companheiro olha pro entusiasta com cara de desinteressado. Volta a procurar o livro que estava procurando como se a afirmação dita anteriormente não fizesse nenhuma diferença. O entusiasta continua ali esperando algum tipo de reação e pro companheiro não ser completamente indeferente a nova radicalidade do entusiasta, diz:

— Puxa… — expressa o companheiro com uma sem-vergonha falsa animação — Mas qual Helvetica você vai usar?

— Como assim? pergunta o entusiasta completamente perdido com a questão.

— Então, já passamos de 2000, vivemos a era digital, ficou relativamente fácil desenhar novas fontes. A cada ano uma nova foundry decide trazer a sua nova, e revolucionária, Helvetica. A mais usada por aí, que vem em quase todos os computadores, é da Linotype, mas tem também uma versão da Font Bureau, uma releitura da Dalton Maag, e, dependendo do seu grau de informação, até a Arial pode ser uma Helvetica. Mais do que famílias tipográficas, essas famílias que você escolheu são, sozinhas, quase um estilo de desenho que vem sendo explorado exorbitadamente na tipografia digital. Esses nomes sozinhos não são uma decisão de projeto, entende?


O entusiasta olha meio boquiaberto pro companheiro tentando responder algo, obviamente não consegue.

O companheiro termina:

— Pensa aí; se precisar de ajuda me avisa.