11 de junho de 2010

Sobre livros digitais

A verdade sobre os leitores digitais

Primeiramente a proposta dos e-readers, até agora, não é vender livros e sim vender o texto do livro. A diferença básica entre o livro tem um projeto gráfico específico enquanto o texto do livro pode ser colocodo num template fixo que encaixa qualquer texto.

O grande problema do iBook (programa e loja de livros para iPad e iPhone) e dos e-readers do mercado são sua limitações em termo de diagramação. Eles não tem recursos como controle de linhas orfãs, hifenização, quebra de página, que são recursos básicos para um livro, principalmente se vários textos são adaptados para o mesmo projeto gráfico.

Apple, e outras empresas, insistem na metáfora da página virando. Isso é bem ridículo, mas a insistência no texto justificado sem hifenização é muito mais drástica. O texto é para ser lido(1) de modo natural e fluído, o que fica mais difícil quando o espaço entre as palavras muda de uma linha para outra. Texto alinhado à esquerda é usado em boa parte dos meios digitais, então porque insistir na justificação(2)?

"Livro (impresso) não dá defeito"

Vi essa frase numa lista de email, e apesar de concordar com ela por enquanto, ela deixa de ser verdade a partir do momento em que os problemas colocados acima forem corrigidos.

Um outro problema, que foi colocado por Petr van Blokland(3), é que não existem ferramentas de diagramação para meios digitais. Por exemplo, não existe nada parecido com o InDesign que trabalhe com HTML. Isso faz com que você tenha que fazer o código para cada livro na unha. Com isso o processo fica muito lento e caro.

Digital x Impresso

Craig Mod(4) separa o livro por conteúdo: o conteúdo sem forma, e o conteúdo que exige forma específica.

O conteúdo sem forma são romances, ensaios, análises críticas, em que a forma não interfere no entendimento do conteúdo. Conteúdo que exige forma específica é quando a forma molda o conteúdo. Livros de fotografia, manuais que tem imagens, tabelas, gráficos e infográficos que reforçam o conteúdo é conteúdo que exige uma forma específica.

Eu penso que os livros com conteúdo sem forma tendem a entrar no digital com muita facilidade e provavelmente ficar por lá. Enquanto os livros em que o conteúdo exige uma forma específica até tenha uma edição digital, mas muito mais cara que a edição impressa, por trazer recursos visuais muito mais ricos e "interativos" (não sei se essa é a palavra certa para isso).

E basicamente, o que eu espero de um livro digital é uma conversa melhor com diferentes leitores. Dividir uma frase interessante via twitter, indicar um capítulo por email, uma discussão sobre o livro dentro do livro (como se cada leitor pudesse colocar suas notas de rodapé) e talvez a oportunidade de "seguir" um comentarista, ou o autor do livro, através do próprio livro.

1 In Defense of Readers por Mandy Brown

2 Grande parte dos livros digitais (inclusive os vendidos na iBook da Apple) são no formato ePub. A formatação dele é via CSS, a mesma usada na maioria do sites. Existe uma grande massa de texto na web, e muita gente lê coisas na web, logo não faz muito sentido textos tão ruins de ler baseado numa linguagem que já é largamente usada para textos.

3 Entrevista com Petr van Blokland na TYPO Berlin 2010

4 Embracing the digital Book por Craig Mod

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