30 de dezembro de 2011

Melhor da música que embalou a Quitanda em 2011

Final de ano, vejo várias listas de melhores músicas e melhores albuns por aí. Seguindo a onda resolvi reunir alguns discos que valem a pena serem ouvidos.

Meu único critério objetivo pra lista abaixo é que o download é grátis e o artista é brasileiro. Sublinho que no ano de 2011 a safra músical com download grátis foi vasta, não raro algo fantástico foi lançado pelo imensurável valor de um clique (o site pra download está linkados no nome do artista e do álbum).

A lista era maior, mas resolvi cortar só pros campeões, mesmo. Aí vai:

Amabis · Memórias Luso/Africanas

Gui Amabis faz muita trilha sonora pra filmes que nunca vi, e ele traz esse jeitão pro disco que de solo não tem nada. A atmosfera cinematográfica é regada por gente de alto escalão da música alterntiva brasileira. Nos vocais Criolo, Tulipa, Céu e Lucas Santanna narram as cenas, enquanto Dengue, Curumin, Regis Damasceno e outros — além do próprio Amabis, obiviamente — dão a vez nas texturas musicais desse disco fenomenal.

Apanhador só · Acústico-sucateiro

Um disco pop que caminha por diversas linhas, de roquezinhos, sambas deliciosos e até funk carioca, Apanhador só consegue fazer uma música gostosa de se ouvir sem perder a originalidade. Pop nem sempre é obviedade e esses gaúchos consegue caminhar por uns caminhos interessantes nesse disco quase desplugado.

Bixiga 70

Banda instrumental de São Paulo que faz um afrobeat de primeira. Afrobeat é um ritmo que mistura funk com música africana, inventado pelo Fela Kuti na década de 70 e que foi redescoberto nos anos 2000, e, como no Brasil a gente já tem uma certa malemolência, esse tipo de mistura cai como uma luva; Bixiga 70 mantém o nível magnífico e além do ritmo contagiante do afrobeat, os caras fazem uns dubs animais — uma espécie de remix que se utiliza a mesa de som como instrumento que tem como característica principal os ecos & delays e marcação forte no baixo & bateria (e como o afobeat tem uma mega bateria e uma baixo nervoso, o esquema fica finíssimo!).

Bonifrate · Um futuro inteiro

Bonifrate é vocalista do Supercordas, banda bixo-grilo do Rio de Janeiro. O disco não larga muito dessa bixo-grilice, mas trabalha com texturas diferentes adicionando outras cordas, como o violino, além das já tradicionais guitarras. Bonifrate caminha ainda por outros terrenos, arriscando por sambinhas e canções mais típicas de cantor solo.

Cícero · Canções de apartamento

Cícero é um carioca que faz um roquenrol muito parecido com as marchinhas de carnaval. A comparação com Los Hermanos é inegável, não sei se pela melancolia, ou pelo alto nível de sambas tristes a la Nelson Cavaquinho, Cartola e Lupicínio Rodrigues — talvez pelos dois. Além dos arranjos animais, com um sutil uso da guitarra em momentos essenciais, Cícero carrega suas letras com uma alta dose de figuras e metáforas que deixam seu cérebro rodando a mil.

O imaginário carioca, assim como nos antigos bossa-novistas, se faz presente tanto na música como nas letras de Canções de apartamento.

China · Moto contínuo

Sou suspeito pra falar do China, curto pacas a cena musical de Recife, e China é um desses caras que surgiu na cena Mangue cantando no falecido Sheik Tosado. China mantém o clima muito brasileiro fazendo belas canções mas sem perder o jeito cosmopolita de se fazer música, é regional e universal sem ser óbvio. As músicas caminham por diferentes estéticas nos arranjos e nas letras, mas mesmo assim o disco consegue ter uma harmonia respeitável.

Criolo · Nó na orelha

Criolo é um mc com uns 10 anos de correria no rap, esse era pra ser um disco de despedida, que surgiu por insistência do produtor Daniel Ganjaman. Por acaso, Criolo explodiu (em vários sentidos) com canções que caminham por vários estilos musicais quebrando até a barreira entre canto e rima. Destaque pra canção Não existe amor em SP que é de chorar!

Karina Buhr · Longe de onde

Mais uma de Pernambuco, Karina Buhr fez parte do grupo Cumadre Fulozinha que cantava uma mistura de coco, baião e ciranda. Sozinha, ela caminha pelo roquenrol mas a seu próprio jeito. Ainda não digeri bem esse disco, ele tem uma pegada meio pós-punk, meio Pink Floyd, meio coco progressivo. É um disco único e bem aclamado em vários lugares, inclusive fora do Brasil. Vale a ouvida, mas ele exige seu tempo de (in)digestão.

Passo Torto

Isso é samba em 2011, poesia concreta, temas urbanos com a cara de São Paulo, sem nenhuma percussão e com um time de instrumentistas de peso da cena alternativa de São Paulo. Kiko Danucci, Romulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos montam um som nervoso que pega o que há de bom de vários ritmos, desde coisas estranhas até teminhas que grudam no seu cérebro. Um disco supreendente.

Romulo Fróes · Um labirinto em cada pé

Rómulo Fróes faz um samba que só cabe a ele. As melodias podem parecer meio monótonas mas sua voz, que sai do fundo do peito, dá um peso bom pros arranjos entrarem e completarem o que faltava. Esse não é um daqueles discos que sai só com um violão, ele exige o respeito de uma banda que consiga caminhar tranquilamente entre o jazz, o rock, o afrobeat e o samba.

Wado · Samba 808

O catarina alagoano sintetiza o que há de bom na música brasileira com esse ótimo disco recheado de participações; gente como Zeca Baleiro, Marcelo Camelo, Mallu Magalhães, Chico César, Curumim, André Abujanra (só pra citar alguns) acompanham Wado no seu universo musical desse neo-samba sintetizadamente orgânico.




Menção Honrosa
(discos que não entram nas primícias da lista acima)


Radiohead · King of Limbs

Metronomy · English Reviera

Warpaint ·The Fool

Mundo Livre s/a · Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa

Autoramas · Música Crocante

The Roots · Undun

Marcelo Camelo · Toque Dela

Kassin · Sonhando Devagar

Wild Flag

Ogi · Crônicas da cidade cinza

Black Keys · El Camino

Lykke Li · Wounded Rhymes