16 de dezembro de 2011

O distúrbio da arte

Do jeito que a medicina e esses antidepressivos estão evoluindo, logo eles vão inventar um remédio que ninguém vai precisar mais de arte. Arte tem muito a ver com distúrbio. A minha arte é muito uma coisa patológica. Acho que arte tem muito disso, mas é muito necessária também para os perturbados. E, como falei, cada vez tem mais gente perturbada. Então, cada vez mais, a arte é mais importante para essas pessoas. A arte possibilita um diálogo, muito interno, muito silencioso. Mesmo que seja livro, filme, mesmo que tenha vozes, o dialogo é muito silencioso, muito interno. É muito fundamental. Se me tirassem os meus discos e os meus livros, eu não duraria muito. Acho que essas coisas são muito vitais. Caso isso acontecesse um dia, ia ficar todo mundo querendo trabalhar em banco e feliz com isso, feliz em pegar trânsito, feliz com a eleição. O povo ainda é muito zumbi, a minha esperança é que essa molecada acorde do transe. Tem uma massa muito zumbi aí, que a arte às vezes consegue tirar desse transe. É quando o cara pensa “acho que não é bem isso”, mas aí depois ele volta pro mundo zumbi dele. É isso, eu não tenho ilusão, esperança de mudar nada, mas também não acredito que as coisas sejam sempre o que elas são. É tudo muito transitório. Nenhum império dura muito. Para a nossa existência às vezes parece muito, mas está tudo transitando e se apagando. A gente não vai conseguir guardar muita coisa por muito tempo, se o planeta continuar. Mas sempre vão estar surgindo coisas.

por Lourenço Mutarelli em entrevista ao RioComicon