11 de abril de 2011

A desimportância do design

Sou filho de designer, meu pai é designer de móveis. Algumas empresas, quando contratam meu pai, tem a expectativa que esse produto, feito por um designer, seja a solução para seu negócio.

Em parte, o design ajuda um produto a se vender, mas essa parte é muito pequena. Pra quem entende lhufas de design (a maioria das pessoas), o produto feito por um designer e um produto feito por qualquer um não tem a menor diferença. Provavelmente a maioria da população só sabe que o produto é feito por um designer quando ele é assinado.

Alguns designers defendem a ideia do design transparente, como se o design nunca devesse aparecer, a forma deve sempre ser serva da função. Essa ideia me parece pretensiosa, porque não acredito que alguém que nunca teve contato com design perceba ao ver uma cadeira, um logotipo, ou um livro o “design” da peça.

Um produto não contém design, o design vem antes de dele ficar pronto. O produto pode ser feito por qualquer um, e qualquer um pode dar sorte e acertar e vender pacas, porém o design é uma disciplina que procura soluções ao problema colocado. O designer consegue trabalhar a partir das limitações e criar algo que caiba nas especificações do cliente e adequar isso ao mercado, mas o problema de uma empresa dificilmente é só acertar no produto, normalmente é toda uma estrutura que precisa de adequações.

É presunção nossa achar que todo mundo entende qual o nosso trabalho. É fácil compreender o que é um logotipo, porém seu processo de desenho (seu design) é algo abstrato, mesmo que possa ser descrito. Design é um meio, e não um fim. A diferença de um designer para um “micreiro” não está no produto realizado mas no caminho que se toma pra chegar naquele produto.

Dessa forma o designer deveria ter também uma função de consultor, pois somente seu trabalho (desenhar um produto, peça gráfica ou digital) não garante sucesso, o design complementa toda uma estrutura que já deveria estar funcionando. Um bom produto não se vende sozinho, da mesma forma que um produto ruim pode vender muito bem.

O design não garante a venda de um produto, mas ele garante um produto muito mais inteligente e adequado com as limitações impostas. Por isso, um dos argumentos usados por algum designers (design vende mais) é mentira. Quem vende mais é vendedor, o design se preocupa em desenhar algo, com o conjunto das necessidades do cliente, necessidades e desejos do mercado e limitações de produção. O método de venda nem sempre é preocupação principal do designer, mas se ele quer vender mais, é bom ficar de olhos abertos, pois o mercado é tão previsível e imprevisível como as pessoas.