5 de julho de 2011

Crônica da criatividade

Não é como se a história surgisse do nada, mas também não é como se ela já não existisse. a criatividade exige seu tempo de cozimento, e o escritor está a mercê desse tempo de cozimento, é escravo da espera. quanto antes perceber que existe uma receita, e que ela deve ser seguida, menos frustrado ele fica.

mas processo criativo sem frustração e angústia é mentira, no mínimo ilusão. não existe criação sem angústia, a frustração da espera do tempo de iluminação ou epifania é sempre presente, o tempo próprio e teimoso das ideias acompanham o escritor até que as palavras tomem a ordem que lhe é devida e que a comunicação por fim se estabeleça.

(comunicação essa que não necessariamente é entre dois seres humanos, mas pode ser entre cérebro e papel, entre ilógica e lógica, entre pensamentos e palavras.)

não estou afirmando que a criatividade tem vida própria, pois não tem, ela é refém de nossa intelectualidade, está presa nas limitações de nossos pensamentos, porém nossos pensamentos são quase irrefreáveis, esses sim parecem que tem vida própria. desligar a cabeça exige prática, e é complexo inclusive ao monge de longa data que, teoricamente, esvazia a mente periodicamente. porém o controle da mente também não garante o domínio da criatividade, permite simplesmente duas possibilidades aos pensamentos — on e off; o cérebro tem seus próprios caminhos e devido ao mistério desses caminhos é que a criatividade de quando em quando se mostra em tela azul, se apresenta na forma do horroroso bloqueio.

o ato criativo é um processo, e como processo, termina quando acaba. se o problema ainda não tem solução, a criatividade continua minhocando, andando por caminhos loucos a procura de alternativas, até que os dois pontos, problema e solução, estejam ligados, ou seja, a iluminação acontece, eliminando todas as alternativas e selecionando a ideal (é quase um espermatozóide em direção ao óvulo).

o interessante do caminho criativo é que ele nunca faz sentido, ou seja, a criatividade só pode ser racionalizada no fim, pois o caminho criativo é escuro, ou melhor, o criador é cego e, a não ser que ele ache o fósforo ou o interruptor, o problema continua lá, angustiando e se debatando feito peixe fora d'água no cérebro do criador.

os caminhos da criatividade podem ser muito dolorosos, porém seu fim é extasiante, se o criador tiver fé no seu processo é capaz que ele se apaixone mais pelo processo que pelo fim e aí sim, o ser criativo tem seus poderes exponencialmente aumentados. amar o processo é a chave para que o dolorido processo da formação da ideia tome a forma que lhe é devida, pra que o solução não fique às coxas e que o texto se encaixe de forma tal que sua leitura seja inegável. cabe ao criador disciplinar a si próprio para ter a sensibilidade de quando colocar o último ponto final.



Meu caro leitor que lê esse texto e pensa “que diabos esse cara tá falando do escritor? Eu sou designer!”, pois então, eu me considero mais escritor pela forma como processo minha ideias, em texto e não em imagens. Tenho um outro texto engatilhado sobre isso, mas só gostaria de salientar que o processo criativo funciona em qualquer área criativa, e que ficar limitado aos escritos de design, ou de uma área específica, limita sua capacidade criativa.

Estude, faz bem!